20.6.08

A falácia da segurança pública levada a sério

por Ton Torres

O sujeito acorda às 4 horas da manhã porque depende dos precários e escassos meios públicos de transporte para ir trabalhar. Soma-se a isso 3 horas de viagem só na ida para o trabalho, alternando-se entre ônibus, trens e metrôs, todos de péssima qualidade e lotados.

Já no trabalho, sabe que só está lá para pagar impostos, pois o governo se tornou uma máquina de gastança “nunca antes vista nesse país”. A média de impostos no mundo gira em torno de 5,5%. No Brasil, estamos na casa dos 12.

Na saúde, se tem algum problema, é jogado no corredor da morte, mais conhecido como SUS (Sistema Único de Saúde). Sim, realmente único, pois em nenhum outro país do mundo a pessoa é tratada tão monstruosamente com descaso. Na saída do hospital, vai pegar o filho na escola, que segundo recente estudo da UNESCO, é a educação das escolas públicas é a pior de década.

É um bom resumo do dia-a-dia do trabalhador brasileiro, não? Ainda não, pois agora temos a falácia da segurança pública levada a sério. São policiais corruptos, que matam, seqüestram e roubam. São bandidos que ao assaltarem o caixa automático de algumas agências bancárias, recebiam escolta armada de policiais militares fardados, em serviço e em viaturas da corporação. São jornalistas seqüestrados, torturados e ameaçados de morte e violência sexual por policiais de milícias. São soldados do exército que seqüestram e entregam jovens a facções rivais. São soldados que se declaram homossexuais e são presos 2 dias depois.

E no final de tudo isso sabemos em quem o cidadão votou, vota e votaria se tivesse uma terceira chance.

O gordo, o barbudo e o que não tomava banho


por Ton Torres

Houve um tempo em que multidões de trabalhadores se amontoavam em greves e paralisações. Era tempo de mudanças, e uma nova forma de enxergar o trabalhador comum pairava no ar. Quem, nos dias de hoje, pode ousar dizer que não conhece o ABC paulista e suas histórias? Ficaria marcado em todos os livros aquele pequeno homem gordo, barbudo, parecendo que não tomava um bom banho há anos, que era de origem humilde e bufava palavras de ordem, enchendo de esperança todos os funcionários em suas manifestações.

Então, mais tarde, surgia uma idéia: se um homem simples é capaz de coordenar multidões, por que não lançá-lo a presidência? Era matemática pura e simples, pensavam integrantes de um partido que zelava a ética e os bons costumes. Esse homem gordo, barbudo e que não tomava banho era tudo que o Brasil precisava. Ele defenderia os trabalhadores, teria o vermelho como sua bandeira e, ainda por cima, lançaria argumentos que convenceriam qualquer um. "Governo de fulano de tal é corrupto", gritava o gordo. "Esse tal de Fernando Henrique só sabe governar através de medidas provisórias", bracejava o barbudo. "Sempre direi não à CPMF", completava o homem que não tomava banho. Bons pontos explorados, não?

Nenhum brasileiro agüentava pagar tanto imposto, e um homem que dizia não à CPMF era um ícone a ser seguido. Fernando Henrique lançava medidas provisórias demais, e casos de corrupção, mesmo que discretos, eram de conhecimento popular desde o princípio da humanidade.

Nisso, eis que o homem gordo, barbudo e que não tomava banho era eleito. Novas páginas escritas na história do Brasil? Sem dúvida. Mas não como pensávamos...

Lula é eleito presidente em 2003, projetando uma onde de esperança “nunca antes vista nesse país”.

Mas alguma coisa estava errada. Aquele pequeno homem gordo continuava gordo, porém comendo alimentos de primeira linha. O homem barbudo continuava barbudo, mas com uma barba aparada, sob um terno italiano e gravava sueca. O trabalhador que não tomava banho passou a tomar um, na banheira presidencial, e mandava o carro oficial buscar o cão de estimação da família. Será que isso era normal? Bom, o coitado era de origem humilde, também tem o direito de provar dos prazeres da vida política.

Apesar das mudanças, uma coisa nunca mudou: Lula odiava estudar, e manteria essa sua crença para provar a todos que o trabalhador do ABC paulista não mudou. Lula era presidente, mas continuava falando errado, escrevendo errado e pensando errado. Sim, pensando errado, pois o único erro que o presidente do “ler é muito chato” cometera era continuar afundado em sua miopia intelectual.

De lá pra cá a história é bem conhecida. O partido político que zelava a ética e os bons costumes foi pego em um dois maiores escândalos de corrupção política do Brasil: o mensalão. Dezenas de homens do presidente Lula caíram, foram cassados ou derrubados. Lula mantinha-se intacto.

As medidas provisórias que Lula emanava eram já tidas como anticonstitucionais, tendo até mesmo a atenção do Supremo Tribunal Federal, a corte máxima do país, aconselhando-o a manter cautela, pois o STF não estava gostando disso. Lula colocava no chinelo o número de medidas de Fernando Henrique.

Por fim, temos o não à CPMF, certo? Errado. Apesar de a oposição barrar o famoso imposto do chefe, do qual Lula sempre foi contra, o governo precisava de mais dinheiro, pois continuava gastando como nenhum outro governo gastou antes. Resolveu, então, assaltar seu cofre particular, o povo brasileiro. Ontem foi aprovada na Câmara a CSS, Contribuição Social para a Saúde, por apenas 2 votos, o seu novo imposto. Sim, seu, pois quem vai pagar é você. Com a mesma falácia da CPMF de que o dinheiro seria encaminhado para a saúde, os cerca de 11 bilhões previstos com a arrecadação da CSS, que começará em janeiro de 2009, terá como destino a saúde pública. A única esperança que nos resta é de que o Senado barre o novo imposto.

Tudo que Lula já foi contra um dia se mostrou como falso. Lula governa conforme a música. Lula governa como ou tão pior quanto Fernando Henrique. Lula é um erro. Lula é fruto da vaidade, da gula e da ganância de Luiz Inácio Lula da Silva. Infelizmente, não se fazem mais homens gordos, barbudos e que não tomam banho como antigamente.