18.4.08

O tupiniquim também é um idioma requisitado

por Anne Rodriguez
Correspondente Internacional
Santiago de Querétaro, México

Vim para estudar espanhol. Assumi o papel de professora particular de português para estrangeiros. A vida é mesmo cheia de surpresas! Nunca pensei em me aventurar na arte de dar aulas, nunca. E muito menos de português, e para gringos! Mas, como não resisto a um bom desafio, topei mais essa e cá estou no México, como professora particular de português. E também, aluna de espanhol – o objetivo inicial.


Dar aulas é realmente uma arte. Ao “tentar” preparar a aula do dia, me recordo dos meus professores preferidos e busco a inspiração neles para definir a melhor didática para atrair o meu aluno. Aí, eu vejo o quanto preciso de criatividade, boa vontade e dedicação. Como eu gostaria de ter respeitado mais os meus professores e não ter conversado tanto nas aulas e ter me dedicado mais a todos os exercícios que eles propunham…

Eu tinha medo de dar aulas. O motivo exato? Eu não sei. Por isso, a experiência como “professora” de português é um desafio e um aprendizado mútuo. Me surpreendo ao reconhecer que há pessoas dispostas a aprender o português aqui no México, em um contexto em que os idiomas mais exigidos são o inglês, o espanhol e o francês. Fico contente, ao mesmo tempo, em descobrir que há mexicanos que se dispõe a aprender a minha língua nativa. E, o mais interessante, é perceber que muitos deles acham o idioma “bonito”.

A situação contribuiu para eu refletir sobre diversos aspectos. Incluindo o - talvez - inexistente respeito que os brasileiros têm com o nosso idioma. Observa-se os inúmeros neologismos derivados de outras línguas, onde se destaca o inglês, que foram incorporados ao nosso vocabulário tupiniquim. Claro que a globalização colabora para a adoção desses estrangeirismos no dia-a-dia do país. Porém, há o fato de várias palavras, nomes e expressões serem incorporadas pelos brasileiros com a equivocada idéia de serem mais fashions ou cools.

Dentre as opiniões contra e a favor dos estrangeirismos, destaco a observação de Ernani Porto, “por trás da importação de palavras, há também um mecanismo de exclusão social, o analfabeto em inglês que, aliás, é a grande maioria dos brasileiros”. E se não bastasse o analfabeto em inglês, há a notória existência dos analfabetos do próprio português.

Ao tentar explicar a maneira correta de falar o português brasileiro, noto também o quanto a linguagem coloquial nos vicia a usar tão mal o nosso idioma, adotando um vocabulário limitado e pobre no dia-a-dia. A língua oficial de um país é o seu maior patrimônio histórico e cultural. Mas, infelizmente, para muitos brasileiros, o tupiniquim é apenas uma ferramenta de comunicação viável e necessária.

17.4.08

Eduardo Suplicy: unânime

por Hugo Luz

Eduardo Matarazzo Suplicy é um homem diferenciado. Já o vi recitando Racionais em um discurso no Senado Federal, já o vi passar o Dia dos Pais junto com o Supla e a turma do Pânico, já o vi indo ao Iraque em plena guerra, mesmo com todas as recomendações de que não fosse, já o vi apoiando a oposição contra o governo e até mesmo insistindo em disputar as prévias com Lula, para ver quem seria o candidato do PT à Presidência, em 2003. Esse ano não vi, mas fiquei sabendo que nosso Senador desfilou no Carnaval de São Paulo pela Vai-Vai. Mais uma faceta de Suplicy. Será?

O Samba Enredo da Vai-Vai, Acorda Brasil, falou de “com união, vencer a corrupção, passar a limpo este país”. No desfile estiveram pessoas como o maestro Silvio Baccarelli, Mano Brown, os Racionais, o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, Marcos Frota, entre outros. E entre eles, Suplicy.


Por ser Senador, ele só poderia participar do desfile “desde que houvesse anuência de toda a escola”, e ao que parece, houve. A Vai-Vai sagrou-se campeã do Carnaval 2008, mas isso é o que menos me importa. O que chama minha atenção é um homem de mais de 70 anos, vindo de uma classe aristocrática, dono de umas das maiores fortunas do país, ser praticamente uma unanimidade. Já vi tucanos e pemedebistas, seres avessos à política e anti-petistas, dizerem: No Suplicy, eu voto. Sinônimo de ética e honestidade, Eduardo consegue até mesmo deixar o Supla mais simpático.


Não duvido das coisas boas que a Marta tenha feito pela cidade de São Paulo, mas é inegável que sua vida política tem duas partes distintas. Antes e pós separação. Antes, ela era a mulher do Suplicy, uma pessoa que devia ser respeitada somente pelo fato de ter sido a escolhida do Senador. A mãe de seus filhos. Depois, passou a ser a mulher que trai Suplicy com o argentino, e isso pesou significamente em sua vida. Creio que ela deva agradecer todos os dias por este fato não ter enterrado sua carreira. E isso se deve, em parte, ao fato de que Suplicy manteve-se ao lado da ex-mulher, pelo menos politicamente, talvez em nome do partido.


Mas o fato é que cada vez mais considero Eduardo Matarazzo Suplicy um homem a se espelhar. Uma pessoa que, assim como muitos, sofreu, pagou, sofre e paga o preço de ser honesto num mundo onde a desonestidade e a ganância ganham (quase) sempre. Um homem que deve ter sido motivo de piada e de armações, por simplesmente, honrar o compromisso assumido com o povo, e só com ele. Um homem como poucos, que agrada estudiosos de Harvard e Sourbone, e consegue ser unanimidade em uma escola de samba. Que Suplicy agüente mais muitos e muitos anos nessa luta, e que surjam mais alguns dele.


Eu sou guerreiro de fé

Meu samba é no pé,

sou Vai-Vai

Sou brasileiro e tenho meu valor

Desperta gigante, é novo amanhecer

A levada do meu samba, vai te enlouquecer

(Meu Brasil)

Alô Brasil, o nosso povo quer mais Educação pra ser feliz!

Com união, vencer a corrupção

Passar a limpo este país!

Vamos gritar aos quatro cantos desta pátria mãe gentil

Pra sempre vou te amar, \\ ACORDA BRASIL\\ \ "

16.4.08

Só o PT pode destruir o PT

por Ton Torres

A Veja ironiza e estampa em sua capa um possível Lula eterno, infinito, vitalício. O vice-presidente, José Alencar, diz que quem irá pedir o terceiro mandato de Lula não será o PT, mas sim o clamor popular. Lula é o super-herói da popularidade, é o Batman dos índices eleitorais. Lula é igual ao Batman em tudo: só faz manobras no escuro e vive com uma máscara, para que ninguém saiba seu verdadeiro lado.

O PT perdeu, um a um, todos os sucessores de Lula. Não há mais presidenciáveis no partido da ética, não há mais substitutos para o presidente do Bolsa-família, para o presidente do “nunca antes nesse país”. Lula I acabou no mensalão. Lula II vai acabar nos cartões corporativos e no escândalo do dossiegate. Vamos torcer para que a enorme classe dominante do país, retrata brilhantemente por Reinando Azevedo como a “burguesia do capital alheio” não nos imponha um Lula III e um Lula IV.

Terceiro mandato é crime. Burlar a constituição e criar manobras para uma nova presidência é voltar aos tempos de ditadura. Mais um mandato de Lula é agravar a doença em que o país está afundado. Lula não é Chávez. Lula não é Fidel. O Brasil não é a Venezuela. O Brasil não é Cuba.

Lula sempre que questionado sobre o assunto infla o peito e afirma que não há assunto de terceiro mandato. O presidente diz também que irá romper com o PT caso insistam em uma nova presidência. Lula mentiu. Lula mentiu de novo. Lula não passa de um mentiroso barato.

Na marcha dos prefeitos, evento que contou pela primeira vez com o apoio direto de um presidente da República, os prefeitos petistas clamaram por um terceiro mandato. A resposta veio rápida, a Executiva Nacional do PT proibiu que filiados do partido façam manifestações com esse propósito. Em uma declaração de 13 linhas, a cúpula petista se diz contrária a mudanças nas regras do jogo. Afirma que acredita ser errado beneficiar um governante com “manobras antidemocráticas”, um referência ao segundo mandado de Fernando Henrique Cardoso.

Então por que se fala tanto em terceiro mandato? Lula tem apoio de 60% dos brasileiros. Lula facilmente transmitiria esse apoio ao seu sucessor. Acontece que Lula está sozinho. Todos os homens fortes do PT caíram com escândalos de corrupção. Salvo um integrante petista, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Dilma vinha sido apresentada como a “mãe do PAC”, a mulher que permitiu todo o funcionamento da maior esperança petista. Em um cochilo da base aliada, a oposição convocou a ministra para dar explicações sobre o PAC. Como todos sabem, o PAC não funciona, não funcionou nunca. A oposição encontrou aí um grande ponto para atazanar a vida dos petistas.

Acontece que a ministra Dilma também foi convocada para esclarecer o caso do dossiê envolvendo dados sigilosos do ex-presidente Fernando Henrique. Os dados nem são grande coisa, mas o ato de vazamento de informações é crime. Lula se posicionou a frente para defender Dilma, dizendo que as informações pertencem a um banco de dados do governo. A linguagem não é apropriada para um banco de dados oficial. Dilma pode cair. Dilma pode ser mais um integrante petista morto. Lula não pode mais apostar em Dilma. Lula vai apostar em quem? Os petistas apostam em Lula. O PT tem medo de Lula. Agora, só o PT pode destruir o PT.

A mídia, Isabella e a corrupção

por Jorge Nicoli*
Participação Especial

Talvez dentro de alguns dias o caso da menina Isabella já esteja esclarecido como, quem sabe, se não ele estará longe dos noticiários, sim porque tudo estará esgotado, inclusive a nossa paciência.
O fato é que a mídia nunca esteve interessada em solucionar o tal crime, seus olhos estavam – como sempre – voltados para os institutos de pesquisa. Uma briga pela audiência, pura e simples.

À mídia interessa tão somente a audiência e nada mais comovente que o assassinato de uma bela garotinha de classe média para comover os milhões de espectadores e de
leitores, afinal Isabella tinha um grande futuro. Bem nascida, bem nutrida, seguramente seria uma mulher de destaque no país. A mídia sabe que os miseráveis deste mesmo país adoram se comover com os dramas dos bem nascidos, ignorando os dramas das crianças das periferias que morrem de “morte morrida” e muito mais de “morte matada”. Para não esquecer, o Brasil é um dos recordistas em assassinatos de crianças e de adolescentes, sendo que a maioria absoluta de negros e de pobres.

É claro que a grande mídia não vai se preocupar com isso, afinal pobre nunca deu audiência. Se bem que na mídia tudo é muito rasteiro e superficial, não há contextualização da notícia, os fatos e os personagens surgem e desaparecem como se fossem de um planeta distante. Não existem antecedentes tampouco história. O MST é um bando de invasores de terras produtivas, o PCC é um grupo de presidiários que promove rebeliões e chacinas, os traficantes de drogas são apenas uns caras que tentam destruir a família brasileira, os seqüestradores são criminosos hediondos e o adolescente transgressor é tão somente um marginal.

Da mesma forma que se decidiu que a corrupção é uma moeda de um lado só, pois existe o corruptor mas não o corrompido, isto é alguém compra sem que o outro seja comprado. Só se tem procura quando há oferta, lei do mercado. Enfim, para a mídia a audiência é o desiderato, tanto que as denúncias têm prazo de validade.

Enfim, nada é muito consistente nos atuais noticiários, embora se tenha a impressão – em alguns casos – que há uma profundidade na análise e na cobertura. O que conta de verdade é são os números, nos institutos e na conta bancária.


*Jorge Nicoli
Ator, poeta, resistente cultural, corinthiano roxo e avô do Gabriel e do Leonardo