por Jorge Nicoli*
Participação Especial
Talvez dentro de alguns dias o caso da menina Isabella já esteja esclarecido como, quem sabe, se não ele estará longe dos noticiários, sim porque tudo estará esgotado, inclusive a nossa paciência.O fato é que a mídia nunca esteve interessada em solucionar o tal crime, seus olhos estavam – como sempre – voltados para os institutos de pesquisa. Uma briga pela audiência, pura e simples.
À mídia interessa tão somente a audiência e nada mais comovente que o assassinato de uma bela garotinha de classe média para comover os milhões de espectadores e de leitores, afinal Isabella tinha um grande futuro. Bem nascida, bem nutrida, seguramente seria uma mulher de destaque no país. A mídia sabe que os miseráveis deste mesmo país adoram se comover com os dramas dos bem nascidos, ignorando os dramas das crianças das periferias que morrem de “morte morrida” e muito mais de “morte matada”. Para não esquecer, o Brasil é um dos recordistas em assassinatos de crianças e de adolescentes, sendo que a maioria absoluta de negros e de pobres.
É claro que a grande mídia não vai se preocupar com isso, afinal pobre nunca deu audiência. Se bem que na mídia tudo é muito rasteiro e superficial, não há contextualização da notícia, os fatos e os personagens surgem e desaparecem como se fossem de um planeta distante. Não existem antecedentes tampouco história. O MST é um bando de invasores de terras produtivas, o PCC é um grupo de presidiários que promove rebeliões e chacinas, os traficantes de drogas são apenas uns caras que tentam destruir a família brasileira, os seqüestradores são criminosos hediondos e o adolescente transgressor é tão somente um marginal.
Da mesma forma que se decidiu que a corrupção é uma moeda de um lado só, pois existe o corruptor mas não o corrompido, isto é alguém compra sem que o outro seja comprado. Só se tem procura quando há oferta, lei do mercado. Enfim, para a mídia a audiência é o desiderato, tanto que as denúncias têm prazo de validade.
Enfim, nada é muito consistente nos atuais noticiários, embora se tenha a impressão – em alguns casos – que há uma profundidade na análise e na cobertura. O que conta de verdade é são os números, nos institutos e na conta bancária.
16.4.08
A mídia, Isabella e a corrupção
*Jorge Nicoli
Ator, poeta, resistente cultural, corinthiano roxo e avô do Gabriel e do Leonardo
Postado por Ton! às 16:39
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