por Beatriz Ramos
Em toda minha vida, uma coisa que sempre quis aprender foi bailar. Bailar em um palco belamente e incessantemente. Dançando sem parar, tango, salsa ou lambada – a dança proibida. Por isso, depois de anos e anos adiando, resolvi realizar meu sonho de infância: entrar para aula de Dança de Salão.
Como de costume, tudo bem com vocês? Comigo não muito, mas a vida é curta e o sol nasce amanhã as seis, então vamos ao que interessa. Primeiro dia de aula. Não tem homem no curso, são todas meninas, mulheres, senhoras idosas. No primeiro instante me senti uma extraterrestre por não fazer parte do grupinho. Sempre quis fazer parte de algum grupinho, o das meninas mais bonitas, ou o das meninas com o cabelo bonito e longo, ou até o das meninas bonitas burras. Mas a vida é injusta e não tive essa “oportunidade”, então me recolhi ao grupinho dos amigos estranhos, feios, mas que pensam alguma coisa.
Voltando a dança, me senti um ET. Primeiro, todas as moçoilas foram de salta alto, saia rodada, aquela saia que com um simples giro revela tudo. Eu fui de tênis e calça jeans, uma jeca. Mas era o primeiro dia, o que podia acontecer de errado? Tudo. Descobri que é difícil dançar com gente alta, salvo no caso essa pessoa alta for um homem, aí não existe problema algum. Mas como não sou homem, não dancei com ninguém. Moças gostam de ser conduzidas e eu não sou homem, ainda não sei dançar, consequentemente, não sei conduzir uma dama.
Por fim, acabei dançando com a professora, a Iraci, uma jovem senhora de cinqüenta e poucos anos, com postura bonita, anda na ponta dos dedos e usa um coque com uma flor vermelha no topo da cabeça. É muito bonita, espero ser assim quando envelhecer. O mais legal da dança de salão são as músicas, eu saio de casa ouvindo Korn, System of a down ou, às vezes, nos dias de depressão, Cat Power, Patrick Watson, coisas do tipo. Então, chego a um ambiente desconhecido, à meia luz, cheio de mulher e escuto Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Francisco Alves e Demônios da Garoa. Poderia reclamar e quebrar todos os Cds da Tia Iraci, mas não posso, por que é tudo muito interessante. Mesmo dançando sozinha, aquelas músicas dão o clima de dança de salão.
Semana que vem começo a freqüentar a CAAP (Centro de Apoio ao Aposentado). Tudo bem, eu tenho um fraco por jovens homens de setenta e oitenta anos, mas o meu intuito nesse lugar não é o de paquerar, que fique bem claro, mas sim o de aprender a dançar com homens experientes. A fama desse Centro, em Cruzeiro, cidade abandonada em que vivo, é grande. Lá eu poderei dançar tango, salsa e, exclusivamente, lambada – a dança proibida. Para quem acha que essa coisa de dança de salão é bobeira ou moda de velho, confira o filme nacional “Chega de Saudade”. Na minha cidade maravilhosa a estréia está prevista para o ano que vem, por isso vou continuar dançando o “Tchá, Tchá, Tchá”, até o filme começar. Quem sabe até lá não serei um pé de valsa, todos vão querer dançar comigo e serei uma sensação na lambada – a dança proibida. Boa noite para vocês também.