11.4.08

Inutilidade procriada

por Marcos Cuba

Meu Deus do céu! Só pelo amor do Divino!

É assim mesmo minha gente, não estão lendo nada errado, está corretíssimo o que vocês leram. Estou espantado com a Rede Globo de Televisão. Quando comecei a cursar jornalismo, tinha a idéia de um dia trabalhar nesta emissora renomada, porém com o passar do tempo estou ficando desanimado com tal canal.

Cadê a qualidade que tanto se fala, inclusive numa propaganda que está circulando? Onde está o tal “Q” de qualidade? Nota dez para alguns quadros de humor que foram criados, para o novo formato do Fantástico, que agora pode ser chamado de “Fantástico”, entre alguns outros fatores, porém é necessário pensar antes de ligar a televisão e sintonizar a Rede Globo.

O BBB8, para mim, seria algo que começou, teve o seu meio e fim, só que para o meu espanto algumas “pragas” deste programa, que nada acrescentam na vida de nós brasileiros, estão perpetuando.

Admiro alguns que saíram deste reality e foram estudar para serem atrizes, caso de Grazzi Massafera, entre outras, mas agora ter um quadro num programa com três ex-BBB para aumentar o Ibope, já foi longe de mais.

Fiquei pasmo ao acessar a internet e ver que a idiotice de “Rádio Pinel”, criada por alguns “idiotas”, pois não possuem e nem mostraram conteúdo intelectual no programa, virou quadro do matinal Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga.

Minha gente, onde vamos parar? Agora parece que os três patetas se deram a jornalistas, porque estão fazendo entrevistas com artistas. Francamente. Estudamos quatro anos, fazemos o bendito TCC (trabalho de conclusão de curso) e agora ficar sabendo de uma notícia dessas, é para ficar chocado. A Rede Globo, ou melhor, a sociedade, já pagou muito para estes rapazes que não tem nada para oferecer. Isto mostra a procriação das inutilidades.

10.4.08

O idoso em diferentes contextos culturais

Em algumas culturas eles são respeitados e chamados de sábios. Em outras, conseguem conquistar um acanhado direito de continuar a trabalhar. Mas, ainda em muitos contextos, são considerados inativos e desocupados.

por Anne Rodriguez
Correspondente Internacional
Santiago de Querétaro, México

Uma cena rara - na minha cultura - despertou minha atenção por duas vezes nesta semana aqui no México: idosos trabalhando no comércio. Sim, idosos. Deviam ter mais de 60 anos. Meu primeiro sentimento foi de pena, em ver aqueles “velhinhos” ainda trabalhando, em vez de estarem em casa fazendo “nada”. E pensei: “eles deveriam estar descansando, pois já trabalharam tanto durante a vida…” Mas depois, refleti um pouco mais diante daquela cena, e me lembrei o quanto essa população tem sofrido com pessoas que alimentam pensamentos parecidos com o que tive no primeiro momento.

Será que o idoso deve realmente se limitar a ficar em casa? Será que quando se completa 60 anos, dali para frente a única expectativa é a de esperar a morte chegar? Será que ao conquistar a aposentadoria, o idoso também assina o atestado de que já não serve mais para trabalhar formalmente outra vez? Será que a partir dos 60 anos, as únicas ocupações disponíveis são as de avô caduco, pai doente ou de velho chato?

Lembrei-me do meu avô paterno. O “vô João”, hoje com 73 anos, mantém a mesma vontade de viver de 50 anos atrás. Porém, diante da sociedade brasileira moderna, ele já não serve mais para muita coisa. E sem perspectivas de continuar exercendo diversas atividades diárias, ele se limita a fica em casa, tocar sua gaita de vez em quando, e contar as infinitas histórias do passado nos almoços de domingo em família. Uma condição que já rendeu ao meu avô um início de depressão.

No Brasil, os idosos formam 8,6% da população total do país, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base no Censo 2000. Aqui, cerca de 5% dos mexicanos são de pessoas com mais de 60 anos, de acordo com os últimos dados do CONAPO (sigla em espanhol para Conselho Nacional da População). Para a ONU (Organização das Nações Unidas), a estimativa é de que em 2050 o número de idosos em todo mundo alcance 2 bilhões, ou seja, 22% da população mundial.

Diversos fatores influenciaram e continuarão a determinar o aumento do número de idosos, como por exemplo, os avanços da medicina. No entanto, o que não tem acompanhado esses números é a atenção da sociedade para esta parcela da população.

Não possuo dados oficiais que comprovem que o México trata melhor os seus idosos do que o Brasil, ao adotar medidas como contratar idosos para trabalhar no comércio. Porém, constatar que isso é possível por aqui, já me fez admirar um pouco mais essa nação. Os cargos que eles ocupam são de empacotador de supermercado e loja. Uma função que no Brasil é ocupada, na maior parte, por jovens. E assim como os jovens, os idosos que encontrei transmitem a mesma vontade de viver.

9.4.08

Um sábado de Rock'n Roll

por Fábio Santos

No último sábado, dia 5 de abril, compareci ao Estádio do Palestra Itália para assistir ao show do lendário Ozzy Osbourne, um ícone do Heavy Metal e do puro e simples Rock'n Roll.

Para falar a verdade, decidi ir ao show apenas no dia, pois as últimas notícias do cantor davam conta de que a carreira dele estava quase no fim, por causa dos prolongados anos de uso de drogas. No entanto, ao ver a repercussão do show no Rio de Janeiro, dia 03, fiquei instigado a ver como o antigo líder do Black Sabbath se comportaria no palco e, de fato, não me arrependi da escolha.

Ao chegar ao Paque Antártica ainda encontrei ingressos. Consegui um bom lugar na pista, no meio dos fãs. Naquela noite, além da apresentação do Ozzy Osboune, o público pode presenciar os shows das bandas Black Label Society e Korn. As duas bandas conseguiram levantar os presentes, e ao final das apresentações, um clima de ansiedade caiu sobre o estádio que, durante longos minutos, esperou apreensivo pela entrada da estrela da noite.

Antes de subir ao palco, Ozzy provocou o público dos bastidores ao gritar no microfone a melodia "Olê Olê Olê", que foi respondida prontamente pela platéia "Ozzy!, Ozzy!". Foi neste clima que o show começou, com um vídeo hilário satirizando algumas séries e filmes como "Lost", "A família Soprano" e "A Rainha", onde o músico incorporava alguns dos papéis principais.

Após a brincadeira, chegou a hora do show. Assim, o cantor britânico entrou no palco por volta das 22:00 e incendiou o público com "I don't wanna stop". A apresentação de 1 hora e 40 minutos foi baseada em quatro momentos de sua carreira: os discos "Blizzard of Ozz" (1980), "Bark at the moon" (1983), "No more tears" (1991), o mais recente "Black rain" (2007), além de clássicos do Black Sabbath.

Apesar de seus 59 anos de idade, o cantor mostrou vigor no palco e conseguiu dar conta do recado. Interagindo com a o público o tempo todo, ele fez questão de distribuir vários baldes d'água para os fãs que conseguiram ficar mais próximos do roqueiro.
O Show teve tudo o que podemos esperar de uma bela noite de Heavy Metal. Público alucinado, bandas tocando sem parar, guitarristas empolgados em solos e uma dose de insanidade do guitarrista Zakk Wylde, que cortou a mão durante o último show e continuou a tocar até o final, tingindo sua guitarra de vermelho, mas sem deixar o som parar.

Após clássicos como "No more tears", "Mr Crowley", "Mama, I'm coming home" e "Iron Man", Ozzy encerrou a noite com o clássico do Black Sabbath, "Paranoid". Quando o relógio batia meia noite, o cantor deixou o palco, apesar do público implorar por mais músicas. Ao final da apresentação, senti minha alma purificada e algumas dores no corpo. Afinal, não é sempre que se vai a um show, com quase cinco horas de puro rock. Fico com a sensação de dever cumprido, pois a volta do cantor para nova apresentação é uma incógnita, pois nunca se sabe o que ele poderá aprontar nos próximos anos e se sua saúde irá suportar novas turnês. O que seria uma pena para os fãs do rock clássico, que estão vendo seus ídolos sumindo aos poucos e sendo substituídos por astros artificiais criados pela mídia.

8.4.08

Caso Isabella Nardoni. Caso Isabella Nardoni? Caso Isabella Nardoni

por Ton Torres

Já temos mais um caso, mais um motivo para dar plantão por incessantes 24 horas sem sequer possuirmos informações novas. Já temos um novo Judas, um novo personagem pitoresco para massacrarmos. Quem massacra? A mídia massacra. Os brasileiros estúpidos massacram. Caso Isabella Nardoni. Só posso dizer uma coisa: isso não tá certo.

Eu sei que você esperava mais de mim. Eu sei que sou um palpiteiro bobalhão. Mas não agüento mais ouvir “caso Isabella Nardoni”. É angustiante ver como esse país apodrece no vandalismo. É aborrecedor ver como esse país se estatela em violência e caos. Não vou contar o que aconteceu no caso Isabella Nardoni. Afinal, aposto que a mídia democrática e direitista já fez o seu papel: mostrou-lhe os fatos baseados em argumentos concretos.

Não, a mídia democrática e direitista não fez isso. E pior, não fez isso mais uma vez. A imprensa brasileira está possivelmente caminhando mais uma vez pro lado errado. Sim, entre escolher o certo e escolher o errado, a imprensa brasileira sempre escolhe o errado. Julgamos como culpados o pai e a madrasta de Isabella. Não pensamos nos outros dois filhos. Não pensamos em sua família. Não pensamos em nada.

O mais fantasmagoricamente grotesco de tudo isso são os estupidamente folclóricos brasileiros. Sim, os mesmo brasileiros onde 50% da população não sabem identificar o próprio país no mapa. Sim, os mesmo brasileiros que formam a incrível massa de boçais que querem uma punição a pauladas e com muito sangue. São os indivíduos que vão para porta da delegacia gritar palavras de ordem do tipo “assassinos!”, ou então “vocês devem morrer!”.

Nossa boa e democrática imprensa direitista se pauta nesses indivíduos. É neles que sua programação é focada. É nesses boçais com delinquência acadêmica que boa parte dos programas é direcionada. A imprensa nacional caminha possivelmente para uma segunda versão do caso Escola Base, aquele em que quatro sócios foram acusados erroneamente por cometerem abusos sexuais nos alunos. Quem acusou? A polícia civil, a mesma que apura o caso Isabella Nardoni. Quem fez o julgamento? A imprensa, a mesma que apura freneticamente o caso Isabella Nardoni. Quem executou? A sociedade, a mesma sociedade primitiva e retrógada que pede a morte do pai e da madrasta de Isabella Nardoni.

Para quem ainda não se contenta com fatos meramente nacionais, podemos citar o caso Madeleine McCann, aquela menina britânica que desapareceu em Portugal no ano passado. Os pais de Isabella Nardoni podem cair na mesma cilada em que caíram os pais de Madeleine McCann. Os pais da menina britânica chegaram a serem acusados de envolvimento com o desaparecimento da filha. Recentemente, em uma atitude que possivelmente nunca veremos no Brasil, dois jornais ingleses foram obrigados a indenisar financeiramente o casal, e ainda tiveram que estampar em suas primeiras páginas o que seria em tradução livre algo como “nós pedimos desculpas”.

Quem sabe daqui alguns anos vamos estudar o caso Isabella Nardoni como “o que não deve ser feito no jornalismo parte dois”. Caso Isabella Nardoni. Caso Isabella Nardoni? Caso Isabella Nardoni. Se forem culpados, os pais de Isabella Nardoni certamente vão pagar. Se inocentes, não muda muita coisa, pois eles já estão pagando.

7.4.08

Dia do Jornalista

por Hugo Luz

Fui acordado no último sábado por uma ligação de uma colega de profissão, repórter de uma televisão regional. “Hugo, desculpe estar ligando cedo, mas preciso te perguntar uma coisa”. Não era tão cedo assim, mas ela estava na redação desde as sete da manhã. Eu estava dormindo ainda mesmo, disse a ela, mas meu celular ligado. Nunca desligo. Ossos do ofício, diriam....

Mais tarde estou sentado à frente do computador, escrevendo sobre os fatos surpreendentes que ocorreram naquele sábado. Uma chuva fina e fria caindo lá fora. Toca meu telefone mais uma vez. Desta vez uma colega de um jornal impresso. Seis da tarde de um sábado gélido. E mais um jornalista trabalhando.

As coisas não param de acontecer. Ninguém escolhe hora para morrer, para nascer, para um prédio cair. E a sociedade moderna tem como algumas de suas principais marcas a velocidade, a rapidez, a agilidade de transmissão de informação. Você já pensou que para assistir e se emocionar com as cenas trágicas da colisão do avião da TAM no aeroporto de Congonhas, ano passado, vários jornalistas foram mobilizados e estavam ali, suportando frio, chuva, tentando convencer os policiais e bombeiros de que também estavam fazendo seu trabalho? Tudo isso para você poder acompanhar aquilo em tempo real.

Lembro-me de Rubem Alves que comparava sua função, de repórter de jornal impresso, a de um padeiro. Dizia ele que o padeiro entregava o pão quentinho cedo na porta de sua casa e, para não atrapalhar as pessoas, tocava a campainha e gritava: “Não é ninguém, é o padeiro”.

Venho aqui hoje, dia 07 de abril, Dia do Jornalista, parabenizar todos estes profissionais, porque, acima de tudo, acho que são merecedores. Trabalham duro, alguns até dão suas vidas, para que a notícia chegue a todos os cantos do mundo. Trabalham muito e muitas vezes também, “não são ninguém”. Um jornalista está 100% de seu tempo trabalhando. Sabemos que a vida não é fácil, mas saibamos que nossa profissão, mesmo que nem sempre reconhecida, é de grande importância e tenhamos força para continuar, mesmo quando a vontade é de deixar para lá.

Parabéns a todos e força!

6.4.08

De Cat Power a Noel Rosa

por Beatriz Ramos

Em toda minha vida, uma coisa que sempre quis aprender foi bailar. Bailar em um palco belamente e incessantemente. Dançando sem parar, tango, salsa ou lambada – a dança proibida. Por isso, depois de anos e anos adiando, resolvi realizar meu sonho de infância: entrar para aula de Dança de Salão.

Como de costume, tudo bem com vocês? Comigo não muito, mas a vida é curta e o sol nasce amanhã as seis, então vamos ao que interessa. Primeiro dia de aula. Não tem homem no curso, são todas meninas, mulheres, senhoras idosas. No primeiro instante me senti uma extraterrestre por não fazer parte do grupinho. Sempre quis fazer parte de algum grupinho, o das meninas mais bonitas, ou o das meninas com o cabelo bonito e longo, ou até o das meninas bonitas burras. Mas a vida é injusta e não tive essa “oportunidade”, então me recolhi ao grupinho dos amigos estranhos, feios, mas que pensam alguma coisa.

Voltando a dança, me senti um ET. Primeiro, todas as moçoilas foram de salta alto, saia rodada, aquela saia que com um simples giro revela tudo. Eu fui de tênis e calça jeans, uma jeca. Mas era o primeiro dia, o que podia acontecer de errado? Tudo. Descobri que é difícil dançar com gente alta, salvo no caso essa pessoa alta for um homem, aí não existe problema algum. Mas como não sou homem, não dancei com ninguém. Moças gostam de ser conduzidas e eu não sou homem, ainda não sei dançar, consequentemente, não sei conduzir uma dama.

Por fim, acabei dançando com a professora, a Iraci, uma jovem senhora de cinqüenta e poucos anos, com postura bonita, anda na ponta dos dedos e usa um coque com uma flor vermelha no topo da cabeça. É muito bonita, espero ser assim quando envelhecer. O mais legal da dança de salão são as músicas, eu saio de casa ouvindo Korn, System of a down ou, às vezes, nos dias de depressão, Cat Power, Patrick Watson, coisas do tipo. Então, chego a um ambiente desconhecido, à meia luz, cheio de mulher e escuto Adoniran Barbosa, Noel Rosa, Francisco Alves e Demônios da Garoa. Poderia reclamar e quebrar todos os Cds da Tia Iraci, mas não posso, por que é tudo muito interessante. Mesmo dançando sozinha, aquelas músicas dão o clima de dança de salão.

Semana que vem começo a freqüentar a CAAP (Centro de Apoio ao Aposentado). Tudo bem, eu tenho um fraco por jovens homens de setenta e oitenta anos, mas o meu intuito nesse lugar não é o de paquerar, que fique bem claro, mas sim o de aprender a dançar com homens experientes. A fama desse Centro, em Cruzeiro, cidade abandonada em que vivo, é grande. Lá eu poderei dançar tango, salsa e, exclusivamente, lambada – a dança proibida. Para quem acha que essa coisa de dança de salão é bobeira ou moda de velho, confira o filme nacional “Chega de Saudade”. Na minha cidade maravilhosa a estréia está prevista para o ano que vem, por isso vou continuar dançando o “Tchá, Tchá, Tchá”, até o filme começar. Quem sabe até lá não serei um pé de valsa, todos vão querer dançar comigo e serei uma sensação na lambada – a dança proibida. Boa noite para vocês também.