10.4.08

O idoso em diferentes contextos culturais

Em algumas culturas eles são respeitados e chamados de sábios. Em outras, conseguem conquistar um acanhado direito de continuar a trabalhar. Mas, ainda em muitos contextos, são considerados inativos e desocupados.

por Anne Rodriguez
Correspondente Internacional
Santiago de Querétaro, México

Uma cena rara - na minha cultura - despertou minha atenção por duas vezes nesta semana aqui no México: idosos trabalhando no comércio. Sim, idosos. Deviam ter mais de 60 anos. Meu primeiro sentimento foi de pena, em ver aqueles “velhinhos” ainda trabalhando, em vez de estarem em casa fazendo “nada”. E pensei: “eles deveriam estar descansando, pois já trabalharam tanto durante a vida…” Mas depois, refleti um pouco mais diante daquela cena, e me lembrei o quanto essa população tem sofrido com pessoas que alimentam pensamentos parecidos com o que tive no primeiro momento.

Será que o idoso deve realmente se limitar a ficar em casa? Será que quando se completa 60 anos, dali para frente a única expectativa é a de esperar a morte chegar? Será que ao conquistar a aposentadoria, o idoso também assina o atestado de que já não serve mais para trabalhar formalmente outra vez? Será que a partir dos 60 anos, as únicas ocupações disponíveis são as de avô caduco, pai doente ou de velho chato?

Lembrei-me do meu avô paterno. O “vô João”, hoje com 73 anos, mantém a mesma vontade de viver de 50 anos atrás. Porém, diante da sociedade brasileira moderna, ele já não serve mais para muita coisa. E sem perspectivas de continuar exercendo diversas atividades diárias, ele se limita a fica em casa, tocar sua gaita de vez em quando, e contar as infinitas histórias do passado nos almoços de domingo em família. Uma condição que já rendeu ao meu avô um início de depressão.

No Brasil, os idosos formam 8,6% da população total do país, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com base no Censo 2000. Aqui, cerca de 5% dos mexicanos são de pessoas com mais de 60 anos, de acordo com os últimos dados do CONAPO (sigla em espanhol para Conselho Nacional da População). Para a ONU (Organização das Nações Unidas), a estimativa é de que em 2050 o número de idosos em todo mundo alcance 2 bilhões, ou seja, 22% da população mundial.

Diversos fatores influenciaram e continuarão a determinar o aumento do número de idosos, como por exemplo, os avanços da medicina. No entanto, o que não tem acompanhado esses números é a atenção da sociedade para esta parcela da população.

Não possuo dados oficiais que comprovem que o México trata melhor os seus idosos do que o Brasil, ao adotar medidas como contratar idosos para trabalhar no comércio. Porém, constatar que isso é possível por aqui, já me fez admirar um pouco mais essa nação. Os cargos que eles ocupam são de empacotador de supermercado e loja. Uma função que no Brasil é ocupada, na maior parte, por jovens. E assim como os jovens, os idosos que encontrei transmitem a mesma vontade de viver.

3 comentários:

bia ramos disse...

Sou muito suspeita para falar de idoso. Sou apaixonada por eles. Foi por isso que meu primeiro trabalho foi em um asilo, o Asilo São Vicente de Paulo em Cruzeiro. Pude aprender muito com eles, principalmente a tentar ser mais educada com as pessoas, que às vezes só prezam pela sua aparência. Esses velhinhos do asilo, não tinham uma condição de vida boa nem força física que os deixassem trabalhar. Admiro muito os que ainda demonstram ter vontade de viver e não ligam para o avanço da tecnologia que cada dia excluí tantas pessoas.

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, brilhante, esta menina realmente é um verdadeiro sucesso.

Anônimo disse...

Ressalto:
Conversei com alguns idosos q ocupam essas funçoes nos supermercados. Tanto os idosos, qnto os jovens ñ trabalham com carteira assinada, e nem têm salário fixo. Eles lucram com as "proprinas" - o que em português chamamos de gorjetas.
E, neste contexto, me declaram que sao felizes! Um deles me disse "É uma forma de entretenimento!"