Participação Especial
por Oswaldo Corneti
Não foi medo nem delírio (é sério!), mas o fato é que o dito cujo estava lá em São Paulo. Sim! Ele mesmo, Ian Kevin Curtis, vocalista e letrista da banda inglesa Joy Division, em carne e osso.
Antes que você ache que esse texto é uma grande balela, eu te explico:
Em 18 de maio de 1980, a imprensa musical britânica, comunicou para quem quisesse ouvir, através de um anedotista, a morte por suicídio, de Ian Curtis. A noticia se espalhou rapidamente, assim como fofocas de senhoras desocupadas, tipo facilmente encontrado em qualquer cidadezinha tosca do interior paulista.
Passados quase trinta anos, eis que Ian reaparece em São Paulo, na noite do ultimo dia 11 de março, para uma apresentação com sua nova banda, Interpol.
Com seu comportamento típico de vocalista de banda indie, Ian, que agora atende pelo nome de Paul Banks, pouco falou com a platéia de quase cinco mil pessoas que se “acabavam na pista”, de tanto dançar aos hits de sua nova banda.
Não se sabe ao certo que de fato levou Ian (ou melhor, Paul Banks) a sair do Joy Division e a montar sua nova banda tanto tempo depois de sua morte ter sido anunciada. Mas o que é bacana de se notar, é que sua voz continua a mesma, e a nova banda, segura a onda direitinho no quesito “ao vivo”.
O show, que começou com certo atraso(os rapazes da banda vestiam seus terninhos engomadinhos como de costume, enquanto Ian estava com um penteado, que talvez justificasse tanta demora do grupo), ao som de Pionner To The Falls, musica que abre terceiro disco de estúdio da banda americana. Um tecladista ainda tentava reforçar o som, mas logo se percebeu que não teria tanto êxito. A aparelhagem e a acústica da casa, deixaram a desejar, e durante algum tempo, o tecladista ficava fazendo gestos para o técnico da mesa de som, o que não surtiu muito efeito.
“Os caras estão tirando leite de pedra!”, exclamou Fabiano Nubrassi, de vinte anos.
O set list, que mesclou músicas dos três álbuns do Interpol, teve dezoito pedradas disparadas em mais ou menos uma hora e meia de show. Porém, a que mais inflamou a platéia, foi "Stella Was a Diver and She Was Always Down", do álbum “Turn On The Bright Lights”, o primeiro da banda.
De todos da banda, o que mais chamou a atenção, foi o competente guitarrista, que tocava como um esganado, dançando de forma um tanto desengonçada, enquanto disparava riffs de guitarra feito um louco.
“Estou surpreso com o comportamento do guitarrista (Daniel Kessler). “De certa forma o cara até que interagiu com a platéia, e me surpreendeu, porque li várias declarações deles na imprensa, onde eles diziam para o publico não esperar muita coisa deles em matéria de calorosidade”, comentou Mauricio Neves, de vinte e dois anos, que aguardava na fila desde as duas da tarde (as portas só se abriram às sete da noite). E completou: “Valeu a pena esperar tanto tempo!”.
Na platéia, composta em sua maioria por jovens na faixa dos vinte e poucos anos, e alguns tiozões saudosistas dos tempos do Joy Division, a empolgação foi tanta, que alguns deles nem se deram conta do clima dantesco que tomava conta do lugar. A estudante de direito, Renata Moura, de vinte e seis anos, estava eufórica: “Ta demais! Você não pode imaginar a minha alegria! Eu estou molhadinha!”. Sim, todos que estavam na parte mais próxima ao palco, ficaram “molhadinhos”, mas foi de suor(você já tava pensando besteira né seu safadjénho!).
“Eu prefiro assistir ao show aqui no pé do palco, pra ouvir se sentir a musica de maneira mais intensa, se você quer ir lá pra trás, pode ir.”, berrava uma garota, a plenos pulmões, a um rapaz (certamente seu namorado), que queria ficar longe do inferninho que estava a região conhecida como “gargarejo”.
Pra piorar, a administração da casa de shows, não disponibilizou dinheiro de troco o bastante pra atender a demanda do bar. Resultado: filas enormes e muita irritação apenas pra tomar aquela cervejinha malandra e refrescante com os amigos.
Voltando a Ian (tá bom, Paul Banks), o rapaz apenas disse algumas palavras inaudíveis ao microfone, certamente para agradecer a presença de todos, e aos corajosos que tiveram a moral (e a grana) pra pagar cinqüenta paus numa camiseta vendida pelo merchandising oficial da banda, dentro da casa.
Entre molhadinhos e irritadinhos, a platéia até que se comportou bem, e a molecada indie pode ir pra casa com um sorrisão enorme no rosto e a sensação de terem feito o dever de casa certinho. Afinal, “indie que é indie, se comporta de maneira educada e bonitinha, caso contrário, papai não libera a grana pra dar rolê no sábado a noite”, né benhê!
A temporada de shows gringos em terras tupiniquins promete ser muita intensa em 2008, ainda se espera outras bandas como Radiohead, Klaxons, Editors, que são aguardadas com euforia pelos moderninhos de plantão, assim como os católicos aguardam ansiosamente o retorno de vossa santidade, o papa Bento XVI.