por Beatriz Ramos
Depois de ter me apaixonado loucamente por um libanês de nome que agora descobri, se chama Yaba Caleb Abdala, posso dizer que sou uma pessoa completa. Novamente, tudo bem com você? Espero que esteja, pois eu, como uma mulher apaixonada, posso gritar aos ventos que sim, também estou bem e muito obrigada por perguntar.
Voltando ao assunto, pretendo terminar a história de uma semana que virou romance ou conto policial. Meu amigo libanês Abdala, se insinuou para mim durante vários dias. No começo não entendi o que todo aquele charme significava. Mas depois de tantas pessoas vindo me dizer que tudo aquilo se chamava amor, eu então, uma mocinha desligada, acordei para a vida e percebi o imperceptível, o amor havia passado por mim. Veio de uma forma nobre e delicada. Primeiro Abdala me ameaçou com um alicate, aqueles de construção com o cabo vermelho, velho e enferrujado. Depois quis, novamente, que me jogasse do segundo andar do prédio onde trabalho. Se ele queria me matar? Claro que não. Vocês não conhecem o Abdala, um libanês, quase turco de tão generoso. Com seus óculos de grau e andar cambaleante, com suas combinações de roupa: calça jeans caindo, sapato social e blusa floral, nos tons azuis e às vezes vermelhos, parecidas com blusas havaianas. Meu amigo libanês sabe como se vestir.
Não contente de chamar minha atenção, Abdala tentou fazer com que eu sentisse ciúmes dele. Ficou querendo comprar a unha de minha amiga e colega de trabalho, Jana Cortez. Todo dia, com seu bom humor matinal, fiscaliza as unhas de Jana para dar um bom preço por elas. No último sábado, suas unhas valiam dez reais. Mas depois que tirou o esmalte, o preço caiu para cinco reais. Exótico que só ele, meu amigo libanês tentou arrancar à força a unha inteira de Jana, e garantiu que ela nem sentiria dor.
Estou começando a ficar com sono, hoje é domingo, dia péssimo e chato por natureza, estou ficando com frio também. Um bom sinal de uma noite tranqüila. Claro que não vou conseguir dormir agora para acordar disposta amanhã. Então dormirei apenas três ou quatro horas. Mas isso não vem ao caso, pois o amor que sinto nesse momento, que estou digitando essas palavras singelas, supera tudo.
Faz três semanas que comecei a trabalhar. Um trabalho árduo, acordo ao nascer do sol e volto para meu lar depois do entardecer. Lembrei daquele filme com a Julie Delpy, Antes do pôr-do-sol, filme lindo. Chorei todas as vezes que ela canta A Waltz for a night. Acho que vou usar essa trilha no dia do meu casório com o Abdalinha, que está me oferecendo quatrocentos reais para que eu case. Amor igual a esse não encontrarei jamais.
Agora vou parar de falar sobre minhas intimidades nesse blog, alguém pode achar que estou querendo chamar atenção. Ah, tive um dèjá vu. Sabe aquele sentimento de repetição? Sim, vocês sabem. Ele tem cara de libanês, tem sotaque carioca, uma barriguinha saliente e adora brigar com as ciganas que o fazem de idiota. Abdala ainda bate nas minhas costas de cinco em cinco minutos, ainda quer conversar com os meus pais sobre o casório e pagar um churrasco no dia da festa.
Ele me chama de “repórter”. Se estiver andando na rua cabisbaixa e ele me encontra, trata logo de gritar _ “Oi Repórter”. Mesmo acompanhado da mulher, ele me chama de repórter. Na última semana, Abdala se encontrou com Mohamed, conterrâneo, cara de mulçumano, expressão bondosa do tipo que fala pouco. Fica rodeando o prédio, o quarteirão, as pessoas que moram e nós, eu também, pessoas que trabalham no prédio. Estão dizendo por aí que eles estão planejando um ataque terrorista em Cruzeiro, por isso meu amigo libanês e grande amor vende caixão, pra ter onde colocar suas vítimas. Meu caixão já está comprado, um presente do Abdala.
Só posso dizer que Abdala é um homem especial!
2 comentários:
Como pesquisador de linguagens e estudante de línguas eu diria que o caso libanês é um conto policial e parece um pouco psicopata, este é um estilo que a jornalista, mais que repórter, resolveu fazer. Parabéns pela história divertida e extravagante Beatriz.
Como pesquisador de linguagens e estudante de línguas eu diria que o caso libanês é um conto policial e parece um pouco psicopata, este é um estilo que a jornalista, mais que repórter, resolveu fazer. Parabéns pela história divertida e extravagante Beatriz.
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