16.3.08

Fobia social e explosão digital: o que esta mistura pode gerar?

por Fábio Santos

Em minha primeira publicação aqui no Blog "Seu Brasil" gostaria de abordar um tema recorrente, levantado pela nossa colega Vanessa Espíndola. Vou falar das novas tecnologias e da internet 2.0, mas sobre outro ângulo, que também deve ser levado em consideração na análise desta mudança tão importante que atravessamos.

Para os que ainda não me conhecem, sou um profundo defensor dos avanços provocados pela digitalização dos veículos e das facilidades que este processo oferece para todos nós. Nós, adultos, que vivemos a transição do analógico para o digital, reconhecemos quanta coisa mudou e nos acostumamos com novos hábitos, como, por exemplo, o conectividade interpessoal provocada pela internet.

Mas o que quero colocar em discussão é a participação das crianças neste processo. Como será o comportamento de nossos filhos sendo criados à luz de tanta tecnologia? Estudiosos criticavam quando crianças passavam a ter a televisão como "babá", mas este foi apenas o começo desta evolução tecnocêntrica.

A banalização da vida humana e o aumento da violência urbana fez com que as pessoas passassem mais tempo dentro de casa e diminuíssem os laços afetivos com a sociedade em sua volta. Hoje as pessoas não ficam mais nas calçadas conversando com seus vizinhos, quando muito sabem o nome da pessoa que mora ao lado. O ritmo frenético encontrado nas grandes cidades acaba por ilhar os indivíduos em pequenos círculos sociais, mas a internet instiga estes mesmos seres a procurarem novos laços no mundo virtual, em especial nas comunidades de relacionamento.

Quantas pessoas do seu Orkut você realmente conhece? E desta pessoas, com quantas você tem contato? Quais são realmente importante para você? Claro que não deixamos de construir nossos laços de amizade, mas os números grandiosos de amigos e fãs virtuais, acabam deturpando os números que realmente importam: os reais.

Aliando a fobia social das grandes metrópoles e a "febre" gerada pelo relacionamento virtual, nos deparamos com um cenário propício para a formação de pessoas com dificuldade nos relacionamentos interpessoais. Esse cenário já pode ser notado com maior clareza entre as crianças e adolescentes do Japão, que desenvolveram síndromes relacionadas à fobia social.

Responda sinceramente: você deixa seu filho brincar na rua? Sair com os amigos? Descobrir melhor o mundo exterior? Ou tem receio pelo o que pode acontecer com ele, alarmado pelas notícias de violência que vê diariamente na televisão?!

Durante um tempo, as mães discutiam com os filhos que queriam sair com os amigos, mas aos poucos as crianças deixaram de se interessar pelo mundo exterior e navegaram de vez na solidão das madrugadas na frente do computador.

Não cabe a mim demonizar os avanços tecnológicos, estou longe disso, mas quero colocar um ponto de interrogação quando o assunto se resume à formação de nossos filhos. Pais ocupados demais com o trabalho e que compensam a ausência com presentes como Ipods, Playstations, Notebooks e celulares são figuras centrais das famílias "pós-modernas".

O desenvolvimento da personalidade de uma criança deve ser amparado por elementos que contam com o convívio social, a educação pelo esporte, o incentivo à leitura e, é claro, a integração tecnológica com o mundo globalizado.

A internet 2.0 está aí, sim, mas não podemos deixar de lado os momentos compartilhados no mundo real, como os momentos que passamos durante quatro anos no Bar do Seu Brasil, momentos que inspiraram a criação deste endereço. Estas experiências fizeram com que os integrantes deste blog compartilhassem momentos bem humanos, com alegrias, tristezas, frustrações, e até violência urbana, como nossos amigos Cleyton e Vanessa, vítimas de assaltos pelos arredores de um dos locais mais movimentados de Lorena.

O mundo é do jeito que é, nós podemos mudá-los sim, mas o que não podemos é virarmos reféns deste pânico social e utilizar as tecnologias como refúgio. Em se tratando de refúgio, ainda prefiro o velho local de encontros, batizado de "Refúgio", mas conhecido popularmente como bar do Seu Brasil.

5 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que deva existir uma saida para toda essa crise que o mundo atravessa. Mas acho muito difícil retornar-mos ao velho e bom tempo em que vivi.Brincava na rua,não sabia o que era DROGA,BANDIDO só os do seriados do cinema.
Acho que a revoluçaõ na informática só veio suprir nossa necessidade de trmos contato com os amigos,sem sermos expostos aos perigos das ruas.
Infelizmente nos dias de hj,temos que nos contentar em ficarmos em nossas casa, para poderm
-mos resguardar nossa vida e de nossos filhos.(isso quando o perigo não resolve invadir os lares).
Seria muito bom,ter a tecnologia de hj e a paz do meu tempo.

Iracema

Anônimo disse...

Texto realmente muito bom. Objetivo e prático!

Vanessa Espíndola disse...

Caro Fábio...
Esses dias mesmo estávamos conversando sobre o assunto, não é?
Acredito que vivemos em um momento decisivo para a qualidade de todo esse conteúdo. Ou nos preocupamos com isso agora ou perderemos totalmente o controle das coisas, principalmente da criação de nossos filhos, (e olha que os nossos ainda nem chegaram rsrs) Podemos olhar para as próprias crianças de hoje, nossa tem algumas de 7 anos que já têm celular! Fala sério!
Mas é aquilo, tecnologia está ai para ser utilizada, cabe a nós decidir como utilizá-la e utilizá-la a favor da educação também.
Acho que ainda vamos discutir muito sobre isso por aqui...
Abraço querido!

Anônimo disse...

Texto excelente, atenta-nos para um assunto que é recorrente, há empresas que contratam psicólogos para desenvolverem dinâmicas de grupo, justamente porque não tem ocorrido as relações interpessoais. Para entrar numa fábrica hoje em dia as pessoas fazem dinâmicas grupais, agora eu me pergunto: Qual o motivo disso estar acontecendo hoje em dia, tempo em que a tecnocracia é o boom?
A resposta é simples, justamente para que na velocidade das ocorrências sociais possamos utilizar os meios como ferramentas para o bom desenvolvimento profissional e não como instrumento de isolamento.
Lembro-me de minha infância, o tempinho bom, em que podiamos sair às ruas jogar bola, brincar de taco, bandeirinha, etc e tal, mas diante dos abalos sociais nos tornamos pessoas "amargas" e trancadas em nosso mundo psiquico e físico.
A tecnologia é uma arma de evolução e não regressão, e infelizmente talvez algumas pessoas devem estar pensando nisso.

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado