17.3.08

Um Libanês em minha vida

por Beatriz Ramos

Finalmente na vida conturbada e agitada dos novatos à proletariados. Tudo bom pra vocês também. Como pessoa educada que me tornei devo agradecer, dizer obrigada e outras palavras sociais. Mas não é sobre isso que eu quero falar nesse blog diagramado pelo “Mal – Humorado” Ton da Silva.

Agora de volta ao meu quarto, em frente ao computador, posso refletir melhor sobre esses dias de começo de trabalho. Dias acordando cedo, cedo demais pra falar a verdade. Meu sono que nunca foi constante se tornou menos constante, pareço aquelas senhoras velhas que dormem picado, várias vezes ao dia. Diferente delas minha pele ainda não se tornou enrugada e nem com cheiro estranho. Se vocês não sabem, como os bebês, os jovens de setenta e oitenta anos também são privilegiados pelo seu cheiro próprio. Nós, seres intermediários, da faixa dos vinte não temos cheiro próprio, deve ser a andança, o contato com outras pessoas. Não sei ao certo, é cada coisa que passa por nossa cabeça.

Acabei de lembrar do assunto que me veio até aqui, foi por causa da música que estou ouvindo. É um rock de uma banda conhecida, não vou falar o nome da banda, tentem adivinhar. Conheci essa semana um homem. De apenas sobrenome, meu novo amigo libanês Abdala. Ele tem um primeiro nome, mas como velha que sou não vou lembrar agora. Esse meu amigo é estranho, mas me faz rir. Me dá medo, por que um dos seus mil trabalhos é cuidar de defunto. Ele vai para o IML (Instituto Médico Legal), e fica lá cheirando os mortos. Fez uma oferta indispensável de um caixão novinho por apenas, R$ 2.000,00 reais pra mim, sem contar que disse que me pagaria cem reais para eu pular da sacada do prédio de onde eu trabalho, junto de Jana Cortez. Amiga de faculdade também.

Ela me encoraja dizendo que os gritos que ele dá, chamando “Deus”, no escritório onde tem um negócio de lixo hospitalar, que fica perto de onde trabalhamos, é pra chamar minha atenção. E os tapinhas que dá nas minhas costas, também são pra chamar minha atenção. Sem contar os trezentos apertos de mão que me dá apenas na parte da manhã e as olhadelas espetaculares de canto de olho para mim. Tudo pra chamar minha atenção. Antes de vir escrever esse texto, eu e Jana tivemos uma reunião com o chefe. Meu amigo libanês sem primeiro nome, estava lá... Ele dorme no seu escritório porque odeia vizinho. Como posso não gostar de um homem assim? Tão sincero e com tanto amor para dar. Aquela música que estava ouvindo quando comecei a escrever esse texto está sendo repetida pela terceira vez, daqui a pouco vou ter que ouvir outra coisa por que definitivamente já me cansei.

O Abdala gostou de mim e disse que rio muito. Claro, sou feliz, fazer o que. Tenho imã pra gente estranha, não sei como tirar isso de mim. Mas o importante é a experiência que tenho quando conheço seres como o amigo Abdala, que de tão estranho chega a ser familiar. Ele tem uma mulher, mas vivem em casas separadas. Eles se odeiam. Ele tem dois carros, um Mitsubishi, mas prefere seu Santana. É um homem ocupado, que além de vender caixão fica oferecendo aparelhos celulares da Nextel pra quem encontra na rua.

Depois de tanta coisa acontecendo nessa primeira semana de trabalho, a única coisa que me lembro é do meu amigo libanês Abdala. Esqueci de contar, ele chama “Deus” em voz alta por que segundo as más línguas, ele é crente. Estou rindo agora, não consigo mais escrever, preciso parar agora. A velha aqui está ficando com dor na barriga de tanto rir, por lembrar do Abdala. O sinistro e sincero Abdala. O carpideiro e papa defunto. Agora vou dormir, está ficando tarde, amanhã acordo cedo.... Agora sou uma proletariada. Boa noite pra vocês também.

4 comentários:

Anônimo disse...

Acompanho de perto essa história e sei que renderá diversos capítulos ainda.
To be continued...

Anônimo disse...

Acreditem se quiser: ela insiste em dizer q isso eh um modelo. Para mais informações, vide TCC de Beatriz Ramos, ex-aluna da Fatea.

Anônimo disse...

Pois bem, a vida é uma caixinha de surpresa, as curvas que o nosso destino faz nos mostra as diferenças que devemos respeitar e conviver com as tais de forma harmônica. Neste desenrolar de histórias vamos registrar a nossa.

Anônimo disse...

Por ter contatos com Beatriz diariamente, fiquei sabendo deste cara...sabem..sinceramente fiquei com medo dele rsrs...depois fiquei mais tranquila, pois, como a própria disse "ela tem imã com pessoas estranhas".
Bia tenta tirar dele as coisas boas de exemplos e não as ruins.
bjsss te adoro